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Ao longo de nossas publicações,
refletimos sobre as implicações do uso do conceito “parafilia”. Por meio deste
texto viemos discutir a prática profissional do psicólogo, considerando a
Resolução do CFP N° 001/99 de 22 de março de 1999, que diz:
• Na prática profissional,
independentemente da área em que esteja atuando, o psicólogo é frequentemente
interpelado por questões ligadas à sexualidade;
• A forma como cada um vive sua
sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na
sua totalidade;
• Há na sociedade, uma inquietação em
torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida socioculturalmente;
• A Psicologia pode e deve contribuir
com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade,
permitindo a superação de preconceitos e discriminações.
No que diz respeito à relação entre
comportamento típicos e desviantes, existe uma linha em que se faz a distinção
entre patológicos ou não-patológicos.
Na prática profissional o psicólogo -
muitas vezes - mesmo não conhecendo o termo “parafilia”, faz uma diferenciação
ao tratar tais comportamentos como “perversões sexuais” – termo antigo para
“parafilia”, relacionado à teoria sobre sexualidade trazida por Freud, no que
diz respeito à “comportamentos desviantes” em detrimentos dos padrões
estabelecidos socialmente ligado à normatização do comportamento sexual. Por
exemplo, quando um paciente vai ao consultório com queixas e dificuldades em
relação às suas vivencias sexuais, pode ser visto como alguém que possui
“perversão sexual”, ou seja, estão lendo como “parafilia” sem o uso do
conceito.
Acreditamos que essa diferenciação
decorra dado as normas e padrões sociais e a posição ético-política do
psicólogo, que deve também levar em consideração a subjetividade e alteridade
do sujeito, além de considerar a relação do mesmo com o meio cultural e seu
posicionamento frente as normas sociais.
Em contrapartida, o DSM tem uma forma de
conceber o indivíduo. De acordo com a “psiquiatria”, abordado e caracterizado a
partir de critérios que são universais em detrimento de seu comportamento. Cabe
a nós, como psicólogos, pensar se esta concepção de sujeito está adequada para
um olhar ampliado, o qual leve em consideração muitos dos aspectos que envolvem
a construção do sujeito e sua sexualidade. Faz parte do posicionamento do
profissional atuante na psicologia não se deter ao uso limitado da
categorização trazida pelo DSM, visto que a categoria não deve ser algo que
defina o indivíduo.
Por uma necessidade acadêmica, se faz
necessária uma abordagem e discussão conceitual sobre “parafilia”, além de
trazer informações que possibilitem reflexões sobre as implicações do uso deste
conceito. Mas ao trazer a prática profissional do psicólogo temos que ter em
mente que não há um consenso sobre o modo de lidar com as vivências sexuais e
problemas relacionados à elas. Cada paciente e cada dificuldade em relação às
“vivências sexuais” devem ser administradas de acordo com a especificidade e
contexto trazido por cada um.
A psicóloga Kahhale incita a seguinte
reflexão:
“ [...] dependendo da linha teórica da Psicologia, a questão da sexualidade é uma questão fundante na concepção da subjetividade, compondo-a e organizando-a. Portanto, sempre precisará ser pensada, independentemente da linha teórica dentro da Psicologia. Ou seja, é um aspecto do humano que, independentemente do peso teórico assumido, sempre exigirá respostas dos profissionais psicólogos. Outra questão que discutimos bastante é que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade, não devendo ser segmentada”. [1]
O profissional de psicologia deve ter
cautela ao olhar os aspectos que estão por trás da vivência sexual e em relação
ao sujeito como um todo. O que está em questão aqui, é que o psicólogo deve
contemplar o sujeito e não a “parafilia”, pois ao focar no “comportamento
parafilico” está se tratando suas vivências como doença, entretanto o papel do
psicólogo é auxiliar o paciente a lidar com suas experiências, sejam elas qual
for. Ao surgirem essas demandas no consultório, é necessário observar os
aspectos inerentes ao sujeito como: sua relação com o corpo, com a sexualidade,
com o outro, o contexto sócio-enconômico e religioso que está inserido.
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Referências:
3 comentários:
Gostei da fala: "Faz parte do posicionamento do profissional atuante na psicologia não se deter ao uso limitado da categorização trazida pelo DSM, visto que a categoria não deve ser algo que defina o indivíduo". Achei que vcs iriam fazer este posicionalmento, especialmente pq ao final do post vcs falam da cautela que o profissional precisa ter.
A postagem traz um elemento importante que é a resolução do CFP sobre a prática profissional em relação a não discriminação de práticas homoeróticas. Mas continuo coma sensação de uma inconsistência porque é dito no texto que comportamentos desviantes seriam a leitura das parafilias sem o uso do conceito. Pergunto: porque a insistência no termo parafilia mesmo diante de tantos argumentos e desconstruções que vcs mesmo trazem? porque não adentrar nos vastos campos abertos por esta problemática?
Os links de referências não levam diretamente aos textos, é necessário rever, e o segundo link, da colcha de retalhos, não entendi porque está e a que se refere no texto. Abçs
Rafa Diehl
O Primeiro link leva ao site do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, onde você poderá encontrar vários textos referentes à sexualidade, gênero e etc, inclusive o texto principal utilizado pelas autoras do blog "Psicologia e Diversidade Sexual" num banner do lado direito. O segundo link é referente à imagem utilizada no início do texto, caso não tenha percebido, foi de lá que tiraram...
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