[1] |
Hoje, numa sociedade influenciada por
uma cultura midiática, é possível que a mídia se construa como um dispositivo
de manipulação e de poder, estabelecendo assim, normas e formas sociais, e
contribuindo para a criação de opiniões, saberes, valores e subjetividades -que
numa perspectiva psicológica seria "aquilo que pertence à consciência
individual" [6], a partir das experiências internas e externas. [2]
Como Samarão e Furtado (SD) afirmam:
“A mídia trabalha para que a sua produção de imagens chegue ao indivíduo de maneira que legitime e afirme não só o consumo, mas também os modos de sociabilidade - uma espécie de orientação sobre como viver e se relacionar em sociedade - nelas inseridos. Para isso, a mídia ensina o que, onde, quando e como consumir. Mais: ensina como devemos ser. Por meio de suas representações, o indivíduo pode se reconhecer como protagonista das imagens, espelhando-se nos modelos apresentados, fazendo da imagem midiática algo a ser copiado”. [3]
Algumas teorias psicológicas que abordam a conquista do imaginário,
referem-se a mídia como meio de manipulação que circunscreve gostos, hábitos,
dizeres e pensamentos da massa, participando ativamente da construção da
realidade dos indivíduos [2]. Ao longo de todo estudo para a produção deste
blog, nos deparamos com diversos usos das classificações diagnósticas tanto do
DSM como do CID, na administração do conceito Parafilia. Tal fato nos fez
refletir quais os critérios utilizados para o uso e as consequências do mesmo. Segundo Matos et al (2005):
“O DSM-IV não deve ser usado como uma lista infalível, que, sendo preenchida, fornece automaticamente um diagnóstico psiquiátrico. Em mãos inexperientes, os resultados são desastrosos”. [5]
Por isso o uso deste manual deve ser feitos
por profissionais preparados, que levem em consideração todos os outros
aspectos e campos que estão relacionados com toda a abrangência do diagnóstico
clínico, não utilizando o DSM como a única fonte de conhecimento. Podemos
encontrar um uso indiscriminado dos conceitos científicos na mídia, mais
particularmente na internet. Basta uma breve procura em sites de busca como o
Google para encontrar blogs e sites de humor, entretenimento ou notícias com
títulos como “10 Parafilias bizarras com exemplos em vídeo”, “10 mais bizarras
parafilias (desejos sexuais)”, etc. Dentre muitos, um nos chamou muita atenção.
O site de grande veiculação da emissora Record (R7), traz uma publicação
chamada “Parafilias II: conheça outros 10 desvios sexuais”. A publicação é composta
de 11 imagens com textos sobre as chamadas “Parafilias”: O primeiro texto
destaca-se, dizendo:
“Você sabia que o nome certo para aquela sua “tara” é parafilia? Em julho, contamos aqui no R7 que as parafilias são desvios sexuais patológicos, em que há atração ou prazer por coisas ou situações inusitadas”. [4]
A partir desta reportagem,
representando o segmento internet, queremos evidenciar o papel da mídia – no
âmbito geral – no que diz respeito à rotulação social, além de ter o papel de
aproximar um público – muitas vezes distantes - deste tema pouco difundido
(utilizando-se do termo “parafilia”), porém muito próximo do cotidiano, pois
fala da padronização do comportamento sexual.
Para ganhar força, a mídia muitas vezes
se apoia nos discursos científicos para validar sua informações. Os efeitos
gerados pelo sensacionalismo na cobertura de temas com maior notoriedade, como
comportamento sexual e saúde, podem resultar no reforço de preconceitos ou
transmissão de informações destoantes ou até mesmo à banalização das próprias
temáticas. É inquestionável o papel da mídia na disseminação de informações –
principalmente para quem não conhece sobre o assunto- pois a internet
(instrumento midiático) é um grande canal de veiculação, possuindo o poder de
propagar e perpetuar preconceitos e até informações que não condizem à
realidade.
O impacto dessas informações,
banalizadas difundidas através da mídia, podem produzir estigmas ou
estereótipos que tragam prejuízos para o indivíduo, utilizando a normatização
como mola propulsora, que neste caso seriam pessoas que possuem algum tipo de
comportamento sexual descrito na reportagem – que não estão enquadrados dentro
dos manuais científicos - tratando e nomeando esses tipos de comportamentos ou
até mesmo desejos, como pertencentes à um tipo de transtorno.
Por isso, devemos estar atentos à
influência da mídia na construção da subjetividade do sujeito, e no que este
processo intervém na vida do indivíduo e em suas relações intra e inter
subjetivas, pois os indivíduos devem ter a possibilidade de desenvolver a sua
capacidade de agir ou resistir frente às imposições da mídia.
É preciso deixar claro que o termo
“parafilia”, ligado a um comportamento sexual, vai ser delimitado de acordo com
os manuais de classificações que abarcam esse tema, tratando-a de forma
distinta, levando em consideração o contexto e a cultura do indivíduo.
Se você gostou, ficou com alguma dúvida
ou não concorda com o que foi escrito aqui, deixe seu comentário ou nos contate
pela aba "Contatos". Não se esqueça de curtir a nossa página no
facebook e não perca nenhuma publicação: Chegando ao Prazer
Referências
[1] Imagem retirada do blog Incomuniq. Disponível
em: <http://incomuniq.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html>.
[2] da Silva, E. F. G., & de Barros Santos, M.
S. E. O Impacto da Influência da Mídia sobre a Produção da Subjetividade.
[3] Samarão, L. & Furtado, P. C. “A Sociedade de
consumo é influenciada e formada por informação, propaganda e publicidade,
constituindo, assim, o modelo de vida moderna. (SD). Disponivel em:
<http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/18/artigo98178-1.asp>.
[4] Entrevista no porta da R7. “Parafilias II:
conheça outros 10 desvios sexuais”. Disponível:
<http://noticias.r7.com/saude/fotos/parafilias-ii-conheca-outros-10-desvios-sexuais-30082012#!/foto/1>.
[5] de Matos, E. G., de Matos, T. M. G, & de
Matos, G. M. (2005). “A importância e as limitações do uso do DSM-IV na prática
clínica”. Rev Psiquiatr RS set/dez 2005;27(3):312-318.
[6] Ewald, A. P., & Soares, J. C. (2007).
Identidade e subjetividade numa era de incerteza. Estudos de psicologia, 12(1),
23-30, p. 12.
Nenhum comentário:
Postar um comentário