O que o cérebro diz?



Partindo do conceito de Parafilias dentro do DSM, podemos trazer um olhar da neuropsicologia a qual nos mostra que a ocorrência dessas se dá em conjunto com alterações cerebrais. Embora os mecanismos neurobiológicos que estão na base do comportamento sexual parafílico ainda estejam em larga escala desconhecidos (Schiffer, Tillmann, Thomas, de Greiff, Forsting, Leygraf, Schedlowski&Gizewski, 2008) [1] já se sabe que podem existir anormalidades do lobo temporal em portadores de parafilias e alterações da sexualidade.[2]
As pessoas portadoras da parafilia podem apresentar uma hipersexualidade, ou seja, atividades, desejos e fantasias sexuais de maneira exarcebada, caracterizando-se como comportamento sexual compulsivo. A hipersexualidade pode ocorrer, em muitas vezes, devido a uma desinibição típica de alguns transtornos do lobo frontal e não, invariavelmente, um aumento do impulso sexual. Outras lesões como a do sistema límbico, mais precisamente na área septal, também têm evidenciado levar ao aumento do comportamento sexual, sendo essa área vinculada a intenso prazer. [2]
Em estudos realizados com travestis, no qual se usou o encefalograma, encontrou-se que essa parafilia está associada a um aumento das anormalidades do lobo temporal. Sendo encontrada também no sadismo e nas agressões sexuais, com exceção da pedofilia e do exibicionismo. [2]
As pessoas portadoras de parafilia tem inteira capacidade de entender que o ato que praticaram apresenta um caráter ilícito, uma vez que o transtorno não lhes causa perturbação da consciência, distorção perceptiva ou do juízo da realidade. [4] Tal evidência é corroborada pelo fato que os atos parafílicos costumam ocorrer às escondidas, estão conscientes da ilegalidade e/ou da reação da sociedade se forem pegos em flagrante. [5]
No entanto, os portadores apresentam alterações de pensamento, pois as parafilias são marcadas por fantasias recorrentes sexualmente excitantes. [6] Tal alteração é denominada pensamento mágico, o qual segue os desígnios dos desejos, das fantasias e dos temores, conscientes ou inconscientes, do sujeito, adequando a realidade ao pensamento, e não o contrário. Os pensamentos mágicos e rituais compulsivos dominados pelas leis da magia ocorrem com frequência nos quadros obsessivo-compulsivos, ocorrendo esses, em sua maioria, em conjunto com as parafilias. [7]      Podem apresentar também alterações no que diz respeito ao conteúdo do pensamento, que corresponde aquilo que dá substância a ele, os seus temas predominantes, o assunto em si. [7]  A pessoa com parafilia reproduz o ato parafílico em fantasias sexuais para se estimular e excitar durante a masturbação ou nas relações sexuais.[6] Fica claro que o parafílico tem o tema sexual, recorrente e intenso, como conteúdo de seu pensamento. As alterações do pensamento podem ser produzidas por lesões no sistema límbico e no córtex frontal.
Os parafílicos apresentam alterações no controle de impulsos, se enquadrando no transtorno de controle de impulsos. De acordo com o DSM-IV-TR as parafilias são consideradas exemplos de transtornos impulsivos classificados dentro de outro contexto, ou seja, junto aos transtornos sexuais. O transtorno tem como características os seguintes aspectos: o fracasso em resistir a um impulso ou tentação de realizar algum ato que seja prejudicial à pessoa ou a outros, com ou sem resistência consciente ao impulso e com ou sem premeditação ou planejamento do ato, sensação crescente de tensão ou excitação antes de cometer o ato e uma experiência de prazer, gratificação ou alívio no momento de cometer o ato. [8]
Trazendo a vista a importância da neuropsicologia para o estudo das parafilias, podemos constatar que os testes neuropsicológicos são de relevância pela sua capacidade de diagnóstico clínico das perturbações neurológicas e neuropsicológicas (Chaytor & Schmitter-Edgecombe, 2003). [3] Como algumas práticas parafílicas estão associadas a crimes, como é o caso do exibicionismo, da pedofilia e da necrofilia, a neuropsicologia vem contribuir para que tenhamos um novo olhar ao se defrontar com casos de parafilia. Vê os portadores como sujeitos que apresentam disfunções cerebrais e que precisam de tratamento e refletir se a prisão seria a melhor e única solução para os que cometeram atos parafílicos e para que não venham a reincidir.

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Bibliografia

[1] Carrola, Filipa Soraia Rebelo; Fernandez, Miguel Pérez; Maia, Luis Alberto Coelho Rebelo. Estudo neuroanátomo-psicológico de abusadores masculinos, reclusos devido a crimes de pedofilia em Portugal. Revista de Criminologia e Ciências Penitenciaria, ano 2, nº01, 2012.
[2] Ballone GJ - Comportamento Sexual Compulsivo - in. PsiqWeb, Internet, disponível em<http://gballone.sites.uol.com.br/sexo/hipersexo.html> revisto em 2003
[3] Fernandez, Miguel Pérez; Maia, Luis Alberto Coelho Rebelo; Monteiro, Débora Vanessa Xavier; Pombo, Pedro Jorge Nunes. Estudos de casos de pedófilos portugueses à luz da neuropsicologia. Psicologia.com. PT, 2009.
[4] Alves, Karla Crisyhina; Souza, Silas Prado de. A perversão sob a ótica da Medicina Legal. Reverso, Belo Horizonte, ano 26, nº51, p. 85-90, 2004
[5] Psicoque? “Parafilias e Crimes Sexuais”. Disponível em: < http://psicologia-ro.blogspot.com.br/2012/02/parafilias-e-crimes-sexuais_22.html>. Acessado em 04/12/13
[6] Morbeck, Erika T. Sexualidades atípicas ou parafilia. Disponível em:< http://www.erikamorbeck.info/index.php/artigos-mainmenu-32/16-abstracts/104-sexualidades-atipicas-ou-parafilias-13766552>. Acessado em 10/12/13.
[7] Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos transtornos mentais. 2 ed- Porto Alegre: Artmed, 2008
[8] BORGES, Manuela C. et al. Transtornos parafílicos em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo: série de casos. J. bras. psiquiatr. [online]. 2007, vol.56, n.3, pp. 219-223. ISSN 0047-2085.