[5] |
No ano de 2013, como já foi citado na postagem sobre
a História
da Classificação, foi criada a versão de número 5 do DSM (Manual Diagnóstico
Estatístico de Transtornos Mentais), no qual são catalogadas mais de 300
doenças, dentre elas, por exemplo, o transtorno de jogos na internet. Tal
conceituação nos leva a refletir sobre um debate que já vem sendo levantado por
profissionais da área: enquanto uns atentam para a necessidade emergente de se
entender novas patologias que surgem com o decorrer dos anos, e que sem o
manual, seria difícil tratá-las; outros trazem à discussão a ação da indústria
farmacêutica na categorização de novas doenças [2], talvez por fins de
interesse da área.
Sabemos que a ciência evolui em busca de respostas,
e no mesmo caminho, seguiu o conhecimento científico na medicina, resultando na
criação de classificações para as patologias mentais. A primeira edição do DSM,
criada em 1952 era composta por 106 patologias mentais, [4]. Em 1968, foi
lançado o DSM-II, no qual continha 182 alterações mentais, contendo novas
divisões, e a criação de novas categorias. A terceira versão do DSM foi marcada
por diversas mudanças, dentre elas a inserção do termo desordem mental no lugar
de doença mental, o uso de critérios mais descritivos, destaque nos sintomas
que eram observáveis e não se prender somente à causa da desordem. Sua
publicação foi no ano de 1980, e continha 265 alterações mentais. O DSM-III-R
foi publicado no ano de 1987, incluindo algumas categorias e revisando alguns
conceitos. Mais tarde (1994), foi inaugurado o DSM IV com 297 alterações
mentais, e posteriormente (2000), o DSM-IV-TR, mantendo as descrições
diagnósticas das publicações anteriores, com pouquíssimas alterações nas
categorias [1].
Como já foi citado inicialmente, a versão do DSM-V
(2013) possui 450 categorias [6], e chegando ao fim da linha histórica do
crescimento de categorias do DSM refletimos sobre a criação de conceitos
patológicos com o decorrer do avanço da medicina e qual o papel dessa
categorização e especificação de sintomas. Categorizar, segundo Bruner e col
[3],
“consiste em tornar equivalentes objetos, eventos e
pessoas que são discriminavelmente diferentes; e responder a ele em função de
sua inclusão como membros de uma classe e não como entidades
particulares.”(p.59)
Olhar um indivíduo apenas a partir de uma ou mais
categorias do DSM seria se apropriar de uma visão puramente biológica, em que
muitas vezes vê a pessoa de forma errônea por não captar características da
singularidade do indivíduo, e, como a citação acima diz, não como entidades
particulares. Ao olharmos para o tema do nosso blog, as indagações são as
mesmas: a categorização de vivências como sendo parafilias num manual seria
puramente estatística, uma ferramenta adaptativa para auxiliar no manuseio de
técnicas ou uma crescente necessidade de patologizar aquilo que foge dos
padrões sociais?
À luz do olhar psicológico, faz parte do
posicionamento do profissional não se deter ao uso limitado da categorização,
visto que a categoria não deve ser algo que defina o sujeito, além do que, é
importante salientar que a Psicologia não está voltada para o “comportamento”
apresentado, mas sim para as relações do indivíduo com ele mesmo, bem como com
a sociedade e as normas.
Ao patologizar criam-se regras que determinam como
os sujeitos devem proceder, porém o profissional de psicologia não pode cometer
o erro de não levar em conta a particularidade do sujeito. Ao olhar o indivíduo
na sua relação com as vivencias sexuais deve-se ter em mente os pactos sociais
existentes, enfatizando um olhar direcionado à cultura e ao contexto
(histórico-político) na qual o mesmo está inserido quando se trata das formas
de externalizar a subjetividade. Deve-se considerar a necessidade do indivíduo
de ter referenciais externos para nomear o que desconhece, entretanto um olhar
psicológico deve ter cautela no uso dessas categorizações, pois as
singularidades de cada pessoa e a diversidade social devem ser consideradas.
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Referências:
[1] Derbli, M. (2011). Uma breve história das revisões do DSM. ComCiência, (126), 0-0.
[1] Derbli, M. (2011). Uma breve história das revisões do DSM. ComCiência, (126), 0-0.
[2]
Ferreira, C. M. B. (2013). Nova edição de manual aumenta número de transtornos
mentais. Ciência e Cultura, 65(4), 16-17.
[3]
Lomônaco, F., & Witter, G. P. (1984).Psicologia da aprendizagem. Temas
básicos de Psicologia. Aprendizagem de conceitos. (P59-70) São Paulo: Ed.
Pedagógica e Universitária.
[4] Russo, J., & Venâncio, A. T. A. (2006). Classificando as pessoas e suas perturbações: a'revolução terminológica'do DSM III. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(3), 460-483.
[5] Estafeta
[6] Vladimir Safatle
[4] Russo, J., & Venâncio, A. T. A. (2006). Classificando as pessoas e suas perturbações: a'revolução terminológica'do DSM III. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(3), 460-483.
[5] Estafeta
[6] Vladimir Safatle
Um comentário:
Pessoal,
A postagem é bastante pertinente mas precisa de alguns ajustes. Vale lembrar que considerar as categorias de um manual diagnóstico não quer dizer que se tenha uma visão biológica, pois a questão do diagnóstico é muito mais relativo ao sistema que define doença e saúde/normal e patológico do que elementos do biológico. Claro que conforme o título da postagem podemos pensar que a ideia de crescer e multiplicar (é uma citação ao texto bíblico? porque a escolha?) já foi tomada no sentido contrário nas teorias de controle da superpopulação.
Penso que seria importante avançar nas discussões a partir de trechos como o seguinte: " a categorização de vivências como sendo parafilias num manual seria puramente estatística, uma ferramenta adaptativa para auxiliar no manuseio de técnicas ou uma crescente necessidade de patologizar aquilo que foge dos padrões sociais?"
Ainda sinto falta de uma coesão no blog como um todo. Mas penso que podemos traçar um caminho tentando redefinir o tema e a apresentação do blog. Abraços
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