Sobre o Título do Blog




         A partir de uma perspectiva micro e macro linguística pensaremos sobre o título do blog: “Chegando ao Prazer” – que aqui será chamado de tema – além da contribuição desta análise frente ao título escolhido para o blog. 

       A microlinguística dedica-se ao estudo da estrutura universal da língua (o que é compartilhada por todos, sem se preocupar com o contexto) no que diz respeito a sua sintaxe, morfologia, fonética e entre outros; analisando a língua por ela mesma, sem ater ao seu uso social. Saussure, estudioso da linguística e marco para o Estruturalismo na Europa, definiu a linguística pela relação entre o significante e o significado. O estruturalismo de Saussure apresenta duas dimensões para a linguagem: langue (normas e regulações, ou seja, o próprio sistema linguístico) e parole (comportamentos linguísticos), ele os diferencia porém enfatiza a importância do estudo do da langue. Ao pensar sobre título “Chegando ao Prazer” podemos remeter à sua imagem acústica –conceito chamando por ele de significante – que diz respeito à imagem mental (que poder ser a imagem das palavras escritas) mais a sua fonética, além da seu significado que remete à sua conceituação. 

       O tema proposto traz consigo três signos (veja, tu tem que pelo menos citar o signo junto com o significante e o significado) distintos: “chegando”, “ao” e “prazer”; signo (palavra), por sua vez, denota que algo possui lugar no mundo com seu significado – sendo o próprio conceito da “coisa”, na qual possui seu significado e significante; exemplificado a seguir. Por um olhar microlinguístico, podemos dizer que “chegando” é um verbo intransitivo, conjugado na forma verbal gerúndio, que expressa a ideia de uma ação em andamento ou a ideia de progressão. Por sua vez, a morfologia do signo “ao” define-se como conectivo que possui a função de ligar duas palavras; pois o verbo chegar necessita de uma preposição – quem chega, chega à algum lugar. Por fim, “prazer” como substantivo que denota satisfação, agrado, sentimento agradável, contentamento, divertimento, deleite, regozijo e entre outros. 

      Outra referência na microlinguística, é Chomsky, que diferenciou os conceito de Competence (conhecimento que as pessoas tem da regras) e Performance (uso da língua em situações reais), porém se deteve ao estudo da competência. Como exemplo, podemos dizer que segundo a Competence não poderíamos falar “Chegando a Prazer” ou até “Chegandosse ao Prazer”, pois não estaria de acordo com os padrões e normas estabelecidos socialmente. Independente da forma de como as pessoas utilizam “Chegando ao Prazer”, este “tema” se torna universal por sua estrutura que está de acordo com o significado que é compartilhado pela língua (português), ou seja, a Competence. 

     Em oposição à microlinguística podemos pensar sobre o tema numa visão amplificada, a macrolinguística, que estuda a língua abarcando sua função social e o contexto na qual está inserido, ou seja, a forma de como se usa a língua. “Chegando ao Prazer” pode ter seu significado variado de acordo com cada contexto que se está inserido, de acordo com os discursos, condições de produção e ideologias; atentando-se para relações de poder existentes nas relações sociais, além das diferenças de classe ou até de produção cultural. A partir da variação de sentidos que um signo pode ter em diferentes situações, “Chegando ao Prazer” num contexto sexual pode estar significando a busca pelo orgasmo – cume do prazer sexual; ou em outro contexto pode significar um modo de vida que priorize a busca pela qualidade de vida; pode também remeter a procura pela obtenção da satisfação no que diz respeito ao modo de lidar com a vida, o trabalho ou si mesmo; ou até mesmo em um contexto científico de pesquisa, significar a ação de procurar a fonte de prazer, ou forma de se chegar ao prazer, seja ele qual for. “Chegando ao prazer” fará sentindo em um contexto na qual se acredite que o prazer é algo que se consegue gradualmente (uso do verbo chegando), onde prazer só poderá ser adquirido ser for alcançada dada uma ação 

         Um linguista da macrolinguística que temos como referência é Wittegestein – marco para o nascimento deste campo - ao romper com o estruturalismo resolve estudar o uso da linguagem do dia-a-dia, pois se deu conta que as palavras só funcionam pelo seu próprio uso. Wittegestein tinha o intuito de estudar a linguagem para entender seus mecanismos; como por exemplo, buscar respostas para questões como: 1) Em que situações é habitual usar o termo “chegando ao prazer”? 2) Existe algum tipo de público que não entenderia o que quer se dizer?; 3) Qual o contexto mais propicio para usar o termo “chegando ao prazer”?. A partir dessa transformação linguística temos a pragmática – onde pode-se fazer menção à Austin e os estudiosos de Oxford que estuda os fatores que reagem a à escolha linguística na interação social e os efeitos dessas escolhas sobre as relações sociais, direcionando a atenção para o uso da língua feita pelos interlocutores. 

        Por fim, no que tange à construção do nosso blog o estudo destas duas perspectivas linguísticas (micro e macro) nos ajudaram a refletir sobre o título escolhido, que por sua vez foi definido pelo primeira inquietação epistêmica que nos fez escolher o tema do blog (“parafilia”). Antes de várias modificações iniciais, nosso trabalho seria focado nas diferentes formas de obtenção do prazer sexual, entretanto, por dificuldades metodológicas, de definição de conceitos e por ser um tema muito extenso, preferimos nos focar nas “parafilias”. Após outras modificações, hoje, nosso blog tem por objetivo trazer informações e discussões sobre o conceito de parafilia e suas implicações; a partir desta análise é possível problematizarmos: continuamos “Chegando ao Prazer” como havia sido proposto inicialmente? Posso responder que hoje, dada as circunstâncias atuais nosso título continua coerente com o que propusemos, ao falar “Chegando ao prazer” dentro do contexto de pesquisa em psicologia e reflexões sobre vivências e sexualidade, estamos falando da forma de como se obter prazer sexual. Pois ao refletirmos sobre um termo que normatiza formas de comportamento sexual que buscam a obtenção do prazer – no caso “parafilia”, estamos falando de formas de chegar ao prazer. 

      Em linhas gerais este estudo nos trouxe a oportunidade e fundamentos teóricos que nos permitiram pensar na linguagem que estava sendo usada e na sua relação com o que estava sendo proposto e desejado. Nos fazendo atinar para questões como contexto social, ideologia, campo, público, discurso, posição ético-política e etc. Contribuir assim, para o primeiro passo de reflexão sobre o tema abordado no blog.


*Este trabalho foi escrito para a disciplina de Psicologia e Linguagem.

Um Pouco sobre Sexualidade




Nesta postagem, nos propomos a trazer um pouco sobre o que é entendido por sexualidade. Há expectativa que o profissional de psicologia esteja minimamente preparado para trabalhar com a sexualidade, trazendo à tona a necessidade de falarmos sobre o tema, além do fato de que este assunto é essencial para o entendimento das implicações do uso do termo “parafilia”. [3]
Como trazido por Corbett, a World Health Organization descreve:

“Sexualidade é um aspecto central da condição humana ao longo da vida e engloba sexo, identidades e papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experienciada e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Apesar de a sexualidade poder incluir todas essas dimensões, nem sempre todas são experienciadas ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais” [1].

Trazemos a relação do indivíduo com a sexualidade como tema que merece ser estudado, pois, como evidenciado através das obras de Foucault, na era moderna a sexualidade é fundamental para o processo de produção de verdade e subjetivação dos indivíduos. [2]
Lê-se a sexualidade como dispositivo de poder e regulador de normas de comportamentos sociais; significa dizer que há controle sobre os corpos, forma de obtenções do prazer, populações, subjetividades, sistemas de regras e sistema ético-político.
Ao falar sobre vivências sexuais definidas como “desviantes”, não podemos deixar de levar em consideração a construção da sexualidade do sujeito, isto é, a forma como ele expressa suas vontades e desejos através da suas vivências sexuais. Para os profissionais que lidam com a sexualidade é essencial a reflexão sobre esse tema, pensando sobre a forma de como reproduzimos ou repetimos preconceitos, estereótipos, padrões e regras repressivas que são internalizadas, ganhando força e comumente tomadas como naturais pela cultura compartilhada socialmente. [4]
Por fim, ao repensar a sexualidade devemos superar as abordagens e teorias que tem como apoio valores pessoais de cunho ético-moral e suplantar a psicologia com pretensões universalistas no sentindo de direcionar e normatizar as formas de vivências sexuais a partir de um discurso científico, no que refere-se ao âmbito da sexualidade. [3]

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Referências

[2] Cirino, O. (2007). "O desejo, os corpos e os prazeres em Michel Foucault". Ano V - n. 8 - Barbacena - Junho 2007.

Discussões Sobre a Prática Profissional do Psicólogo



[2]


Ao longo de nossas publicações, refletimos sobre as implicações do uso do conceito “parafilia”. Por meio deste texto viemos discutir a prática profissional do psicólogo, considerando a Resolução do CFP N° 001/99 de 22 de março de 1999, que diz:
• Na prática profissional, independentemente da área em que esteja atuando, o psicólogo é frequentemente interpelado por questões ligadas à sexualidade;
• A forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade;
• Há na sociedade, uma inquietação em torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida socioculturalmente;
• A Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações.
No que diz respeito à relação entre comportamento típicos e desviantes, existe uma linha em que se faz a distinção entre patológicos ou não-patológicos.
Na prática profissional o psicólogo - muitas vezes - mesmo não conhecendo o termo “parafilia”, faz uma diferenciação ao tratar tais comportamentos como “perversões sexuais” – termo antigo para “parafilia”, relacionado à teoria sobre sexualidade trazida por Freud, no que diz respeito à “comportamentos desviantes” em detrimentos dos padrões estabelecidos socialmente ligado à normatização do comportamento sexual. Por exemplo, quando um paciente vai ao consultório com queixas e dificuldades em relação às suas vivencias sexuais, pode ser visto como alguém que possui “perversão sexual”, ou seja, estão lendo como “parafilia” sem o uso do conceito.
Acreditamos que essa diferenciação decorra dado as normas e padrões sociais e a posição ético-política do psicólogo, que deve também levar em consideração a subjetividade e alteridade do sujeito, além de considerar a relação do mesmo com o meio cultural e seu posicionamento frente as normas sociais.
Em contrapartida, o DSM tem uma forma de conceber o indivíduo. De acordo com a “psiquiatria”, abordado e caracterizado a partir de critérios que são universais em detrimento de seu comportamento. Cabe a nós, como psicólogos, pensar se esta concepção de sujeito está adequada para um olhar ampliado, o qual leve em consideração muitos dos aspectos que envolvem a construção do sujeito e sua sexualidade. Faz parte do posicionamento do profissional atuante na psicologia não se deter ao uso limitado da categorização trazida pelo DSM, visto que a categoria não deve ser algo que defina o indivíduo.
Por uma necessidade acadêmica, se faz necessária uma abordagem e discussão conceitual sobre “parafilia”, além de trazer informações que possibilitem reflexões sobre as implicações do uso deste conceito. Mas ao trazer a prática profissional do psicólogo temos que ter em mente que não há um consenso sobre o modo de lidar com as vivências sexuais e problemas relacionados à elas. Cada paciente e cada dificuldade em relação às “vivências sexuais” devem ser administradas de acordo com a especificidade e contexto trazido por cada um.
A psicóloga Kahhale incita a seguinte reflexão:

“ [...] dependendo da linha teórica da Psicologia, a questão da sexualidade é uma questão fundante na concepção da subjetividade, compondo-a e organizando-a. Portanto, sempre precisará ser pensada, independentemente da linha teórica dentro da Psicologia. Ou seja, é um aspecto do humano que, independentemente do peso teórico assumido, sempre exigirá respostas dos profissionais psicólogos. Outra questão que discutimos bastante é que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade, não devendo ser segmentada”. [1]

O profissional de psicologia deve ter cautela ao olhar os aspectos que estão por trás da vivência sexual e em relação ao sujeito como um todo. O que está em questão aqui, é que o psicólogo deve contemplar o sujeito e não a “parafilia”, pois ao focar no “comportamento parafilico” está se tratando suas vivências como doença, entretanto o papel do psicólogo é auxiliar o paciente a lidar com suas experiências, sejam elas qual for. Ao surgirem essas demandas no consultório, é necessário observar os aspectos inerentes ao sujeito como: sua relação com o corpo, com a sexualidade, com o outro, o contexto sócio-enconômico e religioso que está inserido.

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Referências:

Em Busca da Felicidade



[5]


Em vários aspectos, talvez possamos afirmar que nossa sociedade vive um processo que Beck [2] chamou de “destradicionalização”, onde os valores começam a ser colocados em questão e vão se modificando ao longo desse processo. Talvez não se possa afirmar, como Freud afirmou no início do século XX, que a sociedade repousa sobre as coerções de suas pulsões. Todavia, o que se percebe é uma inversão dessa ideia: a interdição do gozo passa a ser substituída pela obrigação do gozo em um indivíduo que passa a ser responsável e gestor de si mesmo. Nesse sentido, felicidade passa de uma aspiração a um dever.
É dentro de um contexto dessa sociedade hedonista – que remete à prática individual de valorização da busca pelo prazer - ao qual vivemos, que percebemos um esforço imenso do indivíduo em se manter conforme as expectativas postas nele. Nesse contexto, a felicidade é deslocada de uma visão coletiva e transcendente para uma lógica individual e materializada em nossas conquistas, obrigando a um indivíduo a se apresentar e se portar como “mais do que bem” [3].
Por fim, e ligado ao contexto acima descrito, a Psiquiatria (como sistemas de valores e como legitimadora de um discurso científico) tem participação marcante por não só refletir a dinâmica normativa social como também passa a ser agente de reprodução e de regulação.
Através das concepções e contribuições de Benilton Bezerra Jr. [3], podemos pensar nessa relação entre felicidade e a Psiquiatria, dividindo o nosso trabalho em dois pontos: o primeiro diz respeito à expansão dos diagnósticos e o segundo é a redução do limiar entre normalidade e patologia, tornando esse discurso cada vez mais enraizado na sociedade.
Um número maior de diagnósticos.
A expansão dos diagnósticos reflete um processo de abarcar no campo da psicopatologia traços e emoções que antes eram vistos ou considerados como inerentes à existência humana. Um dos exemplos é a introdução no DSM V de transtornos como de desregulagem perturbadora do humor que, até então, não havia sido posto em outros manuais.
Nesse sentido, o que se percebe é um número cada vez maior de pessoas que agora passam a ser consideradas como elegíveis a alguma forma de tratamento clínico, como trazido na publicação Crescei e Multiplica-vos [6].
A impressão que se tem é que estamos vivendo numa fase a qual todo desvio pode ser considerado como transtorno, “não se sabia quem estava são, nem quem estava louco” [1]. Também, nessa lógica, não há mais uma diferença relevante entre doença e transtornos mentais. Porém, diante de todas essas mudanças, o que se percebe é uma certa tolerância social ainda maior à biotecnologia ao discurso médico-científico.
O que normal e o que é patológico? Redução do limiar
Levando a fundo essa ideia de uma expansão clínica, no que tange aos diagnósticos médicos sobre transtornos e uma certa aceitação social a esse processo, fica claro que a diminuição entre o patológico e o normal faz com que um número maior de pessoas tornem-se aptas aos tratamentos por terem algum tipo de transtorno. Bezerra Jr. assinala que com o advento do DSM III “um número cada vez maior de indivíduos passou a ter seu sofrimento descrito e tratado em termos médicos” [3].
Um exemplo prático dessa lógica descrita acima é o processo da medicalização da tristeza e do luto ao qual vivemos nos dias de hoje. De fato, duas semanas de humor deprimido, insônia e a perda de apetite e de motivação nas atividades corriqueiras, mesmo que venham por causa de uma perda de parente ou amigo, poderiam legitimar um diagnóstico de algum transtorno mental [3].
Outro exemplo que pode ser incluído nesse processo de redução do limiar entre patologia e normalidade é a questão da medicalização da beleza. Segundo Neto e Caponi [4], o discurso médico está de tal forma enraizado na sociedade que conceitos, como o de qualidade de vida, estão fundamentalmente relacionados ao conhecimento médico, trazendo a questão da felicidade numa chave biológica, colocando-a como uma busca natural do indivíduo e deixando de lado toda a complexidade social.
Considerações Finais
A patologia representa aqui os “comportamentos parafílicos” que constroem a temática deste blog e as implicações que o uso deste conceito pode acarretar na vida de cada indivíduo. A implicação mencionada, refere-se à relação do que o discurso médico traz como patológico e as diretrizes de felicidade que estão sendo expostas diariamente, sendo pontos para reflexões pertinentes à psicologia e para além do âmbito científico, no que diz respeito a forma de como as pessoas lidam com suas vidas.
A partir disso, o psicólogo deve auxiliar o sujeito à mediar esta tensão entre a busca da felicidade e a forma de lidar com o sofrimento. Vale lembrar que as vivências conceituadas como “parafílicas” não são sinônimos de sofrimento e não devem ser tratadas socialmente como tal, porém não negligenciando o sofrimento que algumas dessas experiências podem acarretar, dado que o mesmo possa vir pelas experiências “parafílicas” ou pelo estigma social.

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Referências

[1] Assis, M. de, (2010). O Alienista. Rio de Janeiro, Ed. Rideel.
[2] Beck, U., Giddens, A. & Lash, S., (1995). Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: editora da Universidade Estadual Paulista.
[3] Bezerra Jr., B., (2010). A psiquiatria e a gestão tecnológica do bem-estar. IN: Freire Filho, João (org.). Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade. Rio de Janeiro, Ed. FGV.
[4] Poli Neto, P. & Caponi, S. N. C., (2007). A medicalização da beleza.
[5] Cinema Secreto.
[6] Russo, J., & Venâncio, A. T. A. (2006). Classificando as pessoas e suas perturbações: a'revolução terminológica'do DSM III. Revista Latino Americana de Psicopatologia Fundamental, 9(3), 460-483.

Crescei e multiplicai-vos

[5]


No ano de 2013, como já foi citado na postagem sobre a História da Classificação, foi criada a versão de número 5 do DSM (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais), no qual são catalogadas mais de 300 doenças, dentre elas, por exemplo, o transtorno de jogos na internet. Tal conceituação nos leva a refletir sobre um debate que já vem sendo levantado por profissionais da área: enquanto uns atentam para a necessidade emergente de se entender novas patologias que surgem com o decorrer dos anos, e que sem o manual, seria difícil tratá-las; outros trazem à discussão a ação da indústria farmacêutica na categorização de novas doenças [2], talvez por fins de interesse da área.
Sabemos que a ciência evolui em busca de respostas, e no mesmo caminho, seguiu o conhecimento científico na medicina, resultando na criação de classificações para as patologias mentais. A primeira edição do DSM, criada em 1952 era composta por 106 patologias mentais, [4]. Em 1968, foi lançado o DSM-II, no qual continha 182 alterações mentais, contendo novas divisões, e a criação de novas categorias. A terceira versão do DSM foi marcada por diversas mudanças, dentre elas a inserção do termo desordem mental no lugar de doença mental, o uso de critérios mais descritivos, destaque nos sintomas que eram observáveis e não se prender somente à causa da desordem. Sua publicação foi no ano de 1980, e continha 265 alterações mentais. O DSM-III-R foi publicado no ano de 1987, incluindo algumas categorias e revisando alguns conceitos. Mais tarde (1994), foi inaugurado o DSM IV com 297 alterações mentais, e posteriormente (2000), o DSM-IV-TR, mantendo as descrições diagnósticas das publicações anteriores, com pouquíssimas alterações nas categorias [1].
Como já foi citado inicialmente, a versão do DSM-V (2013) possui 450 categorias [6], e chegando ao fim da linha histórica do crescimento de categorias do DSM refletimos sobre a criação de conceitos patológicos com o decorrer do avanço da medicina e qual o papel dessa categorização e especificação de sintomas. Categorizar, segundo Bruner e col [3],
“consiste em tornar equivalentes objetos, eventos e pessoas que são discriminavelmente diferentes; e responder a ele em função de sua inclusão como membros de uma classe e não como entidades particulares.”(p.59)
Olhar um indivíduo apenas a partir de uma ou mais categorias do DSM seria se apropriar de uma visão puramente biológica, em que muitas vezes vê a pessoa de forma errônea por não captar características da singularidade do indivíduo, e, como a citação acima diz, não como entidades particulares. Ao olharmos para o tema do nosso blog, as indagações são as mesmas: a categorização de vivências como sendo parafilias num manual seria puramente estatística, uma ferramenta adaptativa para auxiliar no manuseio de técnicas ou uma crescente necessidade de patologizar aquilo que foge dos padrões sociais?
À luz do olhar psicológico, faz parte do posicionamento do profissional não se deter ao uso limitado da categorização, visto que a categoria não deve ser algo que defina o sujeito, além do que, é importante salientar que a Psicologia não está voltada para o “comportamento” apresentado, mas sim para as relações do indivíduo com ele mesmo, bem como com a sociedade e as normas.
Ao patologizar criam-se regras que determinam como os sujeitos devem proceder, porém o profissional de psicologia não pode cometer o erro de não levar em conta a particularidade do sujeito. Ao olhar o indivíduo na sua relação com as vivencias sexuais deve-se ter em mente os pactos sociais existentes, enfatizando um olhar direcionado à cultura e ao contexto (histórico-político) na qual o mesmo está inserido quando se trata das formas de externalizar a subjetividade. Deve-se considerar a necessidade do indivíduo de ter referenciais externos para nomear o que desconhece, entretanto um olhar psicológico deve ter cautela no uso dessas categorizações, pois as singularidades de cada pessoa e a diversidade social devem ser consideradas.

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Referências:

[1] Derbli, M. (2011). Uma breve história das revisões do DSM. ComCiência, (126), 0-0.
[2] Ferreira, C. M. B. (2013). Nova edição de manual aumenta número de transtornos mentais. Ciência e Cultura, 65(4), 16-17.
[3] Lomônaco, F., & Witter, G. P. (1984).Psicologia da aprendizagem. Temas básicos de Psicologia. Aprendizagem de conceitos. (P59-70) São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária.
[4] Russo, J., & Venâncio, A. T. A. (2006). Classificando as pessoas e suas perturbações: a'revolução terminológica'do DSM III. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(3), 460-483.
[5] Estafeta

[6] Vladimir Safatle